sábado, 3 de novembro de 2018

Kodac

Encontraram-no, depois de ter sido esfaqueado dentro da sua própria casa.
Ainda com vida, só conseguiu balbuciar uma palavra: Kodac. E apontou debilmente, para uma estatueta de bronze em cima da mesa. Morreu imediatamente a seguir.
O presumível assassino foi apanhado rapidamente. Corria, desenfreado pelas ruas, com uma faca ensanguentada na mão.
Uma hora depois, e equidistante do local do crime, foi avistado outro indivíduo empunhando uma arma branca e assustando os transeuntes que se escondiam dentro do sistema de esgotos da cidade.
Mas Miguelito era corajoso. Levantou a tampa de metal para espreitar, e o que viu? Uma terceira criatura também armada com o mesmo tipo de arma, e depois outra, e mais outra, e mais outra!  Só então  se lembrou:
 Era o Dia Mundial dos Assassinatos, e decorria na vila uma grande festa comemorativa.
Entretanto, a equipa forense recolhia provas no local do crime. Anastácia colocava uma peúga dentro de um saco esterilizado, enquanto Jonas abanava a estatueta que, ao primeiro toque se estilhaçou como se o Kodac estivesse dentro dela, faz muitos anos, a corroê-la totalmente.
Miguelito atreveu-se pelas ruas perigosas e chegou, esbaforido à beira dos detetives. Anastácia deu-lhe uma galheta.
"Desculpa" disse ela arrependida, "Esqueci-me de tirar as luvas."
"Não faz mal" disse o miúdo sorridente. "Venho diretamente do esgoto. Ele disse Kodac antes de morrer? Então, muito naturalmente foi alguém que se entusiasmou com as festividades."
"É o que calculamos, puto. Tu és esperto. E corajoso. Como te chamas?"
"Miguelito."



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