domingo, 31 de março de 2019

Levedura

Para dar descanso à cabeça, e para desentorpecer as pernas, Herculano gostava de brincar com o animal. Sentava o rabo achatado numa pedra qualquer, agarrava num pauzito que por ali estivesse no chão, atirava-o o mais longe que conseguia alcançar, e a galinha ia a correr buscá-lo e trazia-o de volta preso no bico.
Os cães tinha uns certos ciúmes da galinha Laurinda mas não o relevavam pois sabiam que o seu dono, ele próprio haveria de lhes dar, ao final da tarde, depois de um duro esforço intelectual, metido no escritório todo o dia, e para relaxar, uma boa porção de comida desidratada da melhor existente no mercado, com flocos de #levedura  tailandesa e sementes de jasmim.
Um dia, um dos cães mais robustos adoeceu e foi preciso levá-lo ao hospital.
Chamou a esposa, que preparava o jantar dos seu pequenos monstros imprestáveis, e ela, preocupada, largou tudo o que estava a fazer, meteu as crianças numa jaula concebida para deixar filhos amados sózinhos, deu-lhes água mineral proveniente de uma maquineta que adquirira e que mineralizava água deixando-a com o equilíbrio iónico recomendado pela OMS para pequenas bestas parvalhonas, atirou-lhes ossos a fingir, que comprara, de materiais pouco perecíveis, é certo, mas necessários para evitar que eles lhe roessem as pernas das vacas enquanto dormiam, duas garrafas de cerveja e um balde para as necessidades feito em cartão reciclável, agarrou a mala disforme e gorda de tantas faturas e papeís multibanco  que engolia e não conseguia vomitar sem ajuda, pegou no bicho e entrou no carro para partirem a toda a velocidade possível.
Felizmente, não era nada de grave e regressaram satisfeitos, por causa da alegria contagiante que tinham encontrado no ambiente da clínica hospitalar, e pelas rápidas melhoras do cão que conduzia, agora, o automóvel.
Laurinda esperava-os ao portão.







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