sábado, 30 de março de 2019

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Vanda perdeu-se na floresta de cimento.
O seu estado lastimável, o cabelo desgrenhado,
e os olhos enlouquecidos
afugentavam as pessoas a quem
fazia perguntas entarameladas, nas ruas.

Joana queria sair do seu corpo fazia muito tempo.
Pensava, mais uma vez, no assunto,
enquanto se apoiava  no caixote do lixo
para descansar de vadiar pelos passeios e pelas praças.
O caixote era verde, e Joana tinha um vestido azul,
que é a cor cativa das nódoas e da lama.
Nada de relevante.

Enquanto a primeira tinha visto monstros
enormes no parque infantil,
teve que fugir, fugia deles sabendo
perfeitamente da sua irrealidade,
era só porque tinha medo de tudo e de nada,
a segunda já não tinha que beber dentro da garrafa,
e a ausência do líquido alegre
e deslizante, não a suportava.

Os seus lados sombrios encontraram-se
nesse canto
onde não atrapalhavam o tráfego
das pessoas apressadas.

Foi por isso que Vanda foi andando
até às moscas,
porque as moscas são um sinal de vida
e de outras coisas, e sentou-se ao lado de Joana
e não pronunciaram uma única palavra.

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