terça-feira, 26 de março de 2019

pposss


Celeste, pela janela da cozinha, observou as nuvens a quererem desaparecer  por detrás das montanhas. Percebendo que não choveria nas horas seguintes, agarrou no alguidar da roupa, desceu as escadas do alpendre, e já estava com uma mola na boca e outra pressionada entre os dedos para começar a prender as peças na corda, quando ouviu um assobiar muito próximo.
Primeiro, parecia uma criança a tentar acertar uma melodia, depois transformou-se no cantar de um pássaro, muito afinadinho, mas todos os esforços para  perceber qual era a criatura que produzia aquele som se revelaram em vão.
O som magnífico vinha, parecia-lhe, de um pessegueiro abandonado no fundo do quintal, mas quando Celeste se virava para o local, já os seus ouvidos lhe indicavam outra direção, e mais outra e mais outra, de forma que acabou por rodar sobre si mesma, o suficiente para ficar enrolada no lençol que tinha em mãos, e que já fora estampado com crisântemos brancos em fundo roxo, mas que agora era todo da mesma cor pardacenta.
Sem conseguir equilibrar-se, caíu mumificada sobre as ervas, e foi nesse momento que, incapaz de se defender, sentiu aproximar-se o som do assobio, que a assustava cada vez mais.
Estava Celeste  olhando o céu, devido à posição em que tinha caído, de costas no chão, quando a carantonha de um pardal maléfico se aproximou dos seus olhos, tapando a luz do dia.
Felizmente dois agentes da autoridade iam a passar por ali fora do horário da ronda habitual, Andavam atrasados por causa de um urso que se encontrava na via pública a comer  ervilhas e não queria de lá sair, nem sob ameaça de prisão. Tiveram que utilizar o último recurso, o bailado para retirar ursos da estrada e que se revelava muito eficaz. O urso distraia-se com a coreografia hilariante e deixava-se conduzir pela mão até à floresta de gelo..
Foi o que valeu a Celeste, esse atraso dos anjos de farda.
Ao princípio pensaram que os gritos provinham do velho lençol falante, mas, depois de apurarem o ouvido perceberam que lá dentro estava um indivíduo do sexo feminino, e que se encontrava em dificuldades. e logo trataram de perseguir o pássaro, saltando de árvore em árvore o melhor que lhes foi possível.
Após detenção do criminoso, libertaram Celeste fazendo-a rolar pela colina.








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