segunda-feira, 4 de março de 2019

Separação, ( #White_Day, vá lá saber-se porquê )

(Era estranho o modo como reagia à proximidade dos outros. Simplesmente abanava a cabeça em sinal de negação)

A mochila pendurada pelos ombros, quando estava muito pesada. revelava-se um tremenda chatice. Obrigava-o a inclinar o corpo para a frente para lhe suportar o peso.
O que tinha lá dentro, não contando com os documentos, provas de vida essenciais, e que podia mostrar a toda a gente, tudo o resto era tralha.
Prejudicava-lhe a marcha, nas subidas cansava-o ainda mais, e nas descidas impelia-o a ir por ali abaixo.
Não tendo nada de verdadeiramente importante lá dentro, guardou a carteira num bolso e resolveu separar-se dela, abandoná-la num sítio qualquer, com o maior desprendimento possível.
O que mais lhe interessava no momento era percorrer tudo o que havia para percorrer, passo a passo, dispensando tudo o que não lhe permitisse levar o seu objetivo avante,
Então, bem mais leve, prosseguiu o seu caminho.
Alguns quilómetros passados, o seu coração sofreu um grande aperto. Tinha deixado para trás, meia dúzia de frases  num  guardanapo sujo, que tinha escrito tendo o cuidado de contornar as  nódoas do pequeno almoço.
A hesitação nasceu, súbita e grave, onde é que reside a importância das coisas e outras perguntas de caráter abstrato ecoaram na sua cabeça.
Decidiu não as deixar perdidas, e consequentemente, retornou ao mesmo sítio.
Mas quando lá chegou, as gaivotas tinham conseguido abrir a boca do saco, procurando as migalhas indevidas de bolacha que lá estavam dentro.
 As pombas debicando, e elas com os seus bicos aduncos, entretinham-se a destruir as folhas gordurosas, e o invólucro de plástico e outros lixos rodavam no chão, mercê do vento que se tinha levantado entretanto.
Correu a enxotá-las  mas as aves fugiram levando consigo pedaços essenciais da sua prosa sem sentido, sobras ingratas do seu próprio nome.





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