segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Uma #Gaveta na Estação



Enquanto esperava, encaminhei
o olhar até  ao fundo do túnel,
onde morriam de velhice
as longas linhas de luz.

Pareceram-me, aos olhos
dos meus olhos fracos,
de míope,
teclas de um instrumento
que ainda não foi inventado,
ou então...,
um rio de margens difusas,
e brilhantes.

Levantei os braços e abri-os
o mais que pude,
para agradecer, verdadeiramente
à plateia imaginária,
que se acumulava,
de todas as cores,
muito embora não estivesse
mais ninguém,
àquela hora, na estação.


Fiz, não sei porquê,
uma vénia exagerada,
para cumprimentar os bancos
de madeira, vazios,
com as traves desalinhadas,
e  a água da chuva
tão clara como
a manhã transparente
que acabara de nascer.

Pareceu-me sentir,
no momento em que toquei,
ao de leve, o chão,
com as pontas dos dedos,
numa vénia exagerada,
de quem está com muito sono,
os pássaros a entrarem
pelas aberturas do teto,
altíssimo,
e a pousarem nas vigas de ferro,
nos postes, e nos fios elétricos
para ouvirem,
como eu, os ligeiros ruídos
do silêncio extraordinário,
que transfigurava tudo.

Talvez tivessem entrado
em bando
para atualizarem
o  seu
velho ofício
de maravilhar as pessoas.

Estavam concentradas, e felizes,
as aves, não sei porquê,
viam-se a rodar
as contas dos colares,
com as pontas das asas
em sinal de aprovação.



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