quarta-feira, 17 de outubro de 2018

#Rita Hayworth

Vão vivendo mais um pouco,
até as pessoas deixarem de partilhar as suas fotografias,
só enquanto formos lembrando.

Trabalhava as ditas cujas com amor,
todas elas, sem exceção, as notas, as vozes, as melodias,
e as próprias palavras.

Lá estava o cão, recortado ao luar,
naquela hora solitária
que escolhia  para as recordações.
Até ao fim.

Os braços estendidos, idolatrando a sua pessoa,
os aplausos,
quando se tratava de aplaudir,
o público, incansável, não deixava de bater palmas.

O tempo, um tempo artístico, todos os poetas,
os deuses,
se queixam de um tempo finito e inútil,
e eu, para os animar, canto-lhes as minhas canções.

Puxava a cortina, até ao sol já não incidir sobre o ecrâ.

Ao fundo,
já depois dos livros,
depois da parede,
depois da janela do quarto,
depois do ocaso,
depois do acaso de nos termos encontrado,
no universo flutuante dos seres.

Apenas via bolhas de ar a sair da sua boca.
Elevavam-se dentro de água,
desejando chegar à superfície
para se misturarem, rapidamente,
com o ar morno da manhã.

Era um borbulhar  indecifrável,
e líquido, e então foi por isso...,

tantos "entãos" que uso
para não dizer nada,
e então, como dizia,
a lua e o cão, a lua e o cão,
a lua e o cão...

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