sábado, 20 de outubro de 2018

#Xarroco

"Imagina", contava-me ele com um ar indignado, "que queria  que eu acreditasse que a sogra se tinha tansformado num xarroco.
E eu perguntava-lhe se , com o passar dos anos, tinha ficado assim tão horrível, ou teria a pele demasiado escamada, o que lhe conferia aspeto de peixe, mas ele insistia, _não está com ar nenhum de peixe, transformou-se mesmo num_."
Enquanto falava comigo, fumava, nervosamente, cigarro atrás de cigarro, de tal maneira que já havia uma nuvem sobre  a esplanada, e chovia uma cinza miúda acompanhada de um ou outro cinzeiro e maços de tabaco vazios e amachucados.
"E tu não o chamaste à razão? Não lhe disseste que isso é impossível? Que, por muito que as sogras sejam chatas, não se transformam em animais?
O empregado chegou-se à beira da nossa mesa. Eu pedi uma cerveja e um pratinho de Wiskas para gatos esterilizados, para petiscar. Ele ordenou um osso para roer, por causa dos dentes, e uma tijela com água mineral.
"Disse-me que, quando chega a casa, ela está esparramada no chão, com uma grande boca de onde saem inúmeros disparates, e aparenta ter falta de ar, e,  com alguma dificuldade, pede-lhe para a ajudar a encher a banheira, para mergulhar.
"Isso é, de facto, um absurdo. Não deves alimentar esse disparate. Se eu estivesse no teu lugar já lhe tinha rosnado, ou mesmo mordido nas partes baixas, ou nas nádegas"
"Mas.., nas partes baixas? Porquê?"
"Ora, francamente! Achas que lhe chegas aos ombros, ou à cabeça, com a tua estatura? Só se o apanhares sentado"
"Não. Ele é muito esperto. Nunca se senta, com medo."
"Estás a abanar a cauda porquê? Ah, chegou a Lassie..."



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