quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

#Usurpação Benigna tinha sido tão benemérita em vida que ainda hoje, quatrocentos anos depois, a tinham como Santa.
Pelo menos naquela aldeia, Vale de Porrete, um casario bem escondido no país profundo, onde usufruia de um lugar de destaque bem no centro do altar da capela.
Virgulinita e Amiba detestavam a missa, muito por causa daquela figura, que metia medo. 
À primeira impressão  parecia uma santa normal, mas, se por acaso estivessem muito tempo a olhar para ela, e ambas o tinham feito inúmeras vezes, as suas feições  transformavam-se, os dentes cresciam-lhe, os olhos inflamavam, a tez, que uns segundos antes era de um rosa pálido e bondoso, enchia-se de pústulas e crateras. 
Nesse fatídico dia, as meninas resolveram, depois de previamente combinado entre elas, fugir da missa. Aproveitavam quando as mães estivessem de olhos fechados, a rezar, e saíam sem fazer barulho.
E assim aconteceu, de facto, mas não  tinham contado com a atenção  sobrenatural da velhaca criatura, que, assim que deu pelo sucedido, saíu do altar esvoaçando entre as pessoas distraídas, alcançou as crianças e, lamentavelmente, comeu-as. 



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