quarta-feira, 6 de maio de 2020

A História do Gato que Falava #Língua_Portuguesa


Passou a noite e o animal julgou
perder todo o seu mistério,
toda a sua poesia habitual.
Percorreu a casa, tranquilamente,
procurando a luz do amanhecer
nas janelas viradas a nascente.

Não era seu hábito tartamudear,
responder hesitante,
mas naquela manhã,
afirmou-me não lhe importarem
os versos para nunca mais.
Tinha sonhado outra vez com bolas de sabão,
que saturação,
que rebentavam no ar , inconscientes.

Olhava para mim, muito triste,
como se alguma coisa de perigoso
lhe toldasse o pensamento.
"não há nada que consiga reinventar,
elas que rebentem. se quiserem,
A mim, assombram-me a noite,
como se eu não fosse um gato.
E depois fico ensombrado pela
noite assombrosa,
e já não há nada a fazer."

Mas como os gatos não são de
gastar muito em palavras
olhou-me uma última vez,
e foi-se enroscar no tapete esverdeado
de frente para os vasos das flores.
E que lindo que ficou, como sempre,
quando o sol despontou e se deitou
sobre o seu corpo indolente.





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