sábado, 14 de abril de 2018

Âmbar



De autor desconhecido,
a torre erguia-se, já completa,
na periferia da cidade.
Erigida a obra,
a primeira primavera
passou-lhe por cima,
e roubou quase todas as folhas
às árvores dos terrenos circundantes,
e raras restaram nos troncos
vivos, mas nús.
As que fugiram,
as folhas,
o vento transportou-as
para as colar ao monumento,
sem que ninguém disso
se apercebesse.
Os papagaios,
há muito adaptados ao ambiente,
soltavam penas verdes,
que formavam pequenos círculos,
colocados de tempos a tempos,
nas paredes.
Os anos foram passando,
surgiram as dúvidas na comunidade
artística, os artistas
que reuniam bastas vezes,
vestidos excentricamente
a rigor,
e ele via-os ao longe
os seus gestos disparatados,
o quadriculado das vestimentas,
conversando com aqueles outros,
os outros,
os que duvidavam,
racionalmente, duma obra
que inclinava com o tempo,
que mexia,
duvidavam, muito naturalmente,
da sua
sustentabilidade.
E enquanto tombava a construção,
e as pedras se movimentavam,
impercetivelmente,
mas magnéticas,
recebendo nos braços, todos os
troncos,
todas as folhas, e algumas flores.
escondia-se ele debaixo da terra,
olhando, com os seus olhos tímidos,
as pontas em #âmbar
dos sapatos.














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