sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Belo e a Monstra

Num dia perfeitamente vulgar, em que o Belo ficou em casa sem fazer nada, por motivos de #greve, e andando a passear no jardim, viu uma  Monstra e apaixonou-se por ela.
 O contrário também aconteceu, o Belo captou a alma sensível da Monstra debaixo daquela fealdade toda, e a Monstra encontrou no Belo coisas muito ruins que mais ninguém conseguia ver, mas como dizia, quando se apaixonaram, ele foi o primeiro a declarar-se,
"Não me importo que sejas horrível. Amo-te muito."
A Monstra sorriu, fazendo o sorriso mais detestável que alguma vez se viu, o cheiro nauseabundo do seu hálito espalhou-se  sobre as flores, as abelhas caíram no chão de patas para o ar como se tivessem enfrentado uma chuvada, e com as garras apertou-lhe a mão delicada, enquanto lançava grunhidos de felicidade.
O seu contentamento, a sua alegria, foram tão grandes, que produziu pequenas descargas elétricas, as escamas eriçaram-lhe de felicidade, e a cauda rodou sobre si própria, em rápidos movimentos descontrolados.
"És feia que doí, mas tens uma alma tão grande"
A Monstra através de uns roncos insuportáveis, deu-lhe a entender que ele apesar de belíssimo, era imensamente estúpido e cretino e mau, o que assentava que nem uma luva na sua vontade de praticar o bem. Transformá-lo-ia, com o tempo nalguém, talvez mais feio e sujo na aparência, talvez, até, lhe caíssem uns dentes, ou uns dedos, mas os seus pensamentos maléficos acabariam por desaparecer.
Perante esta resposta afirmativa, este consentimento, o Belo ajoelhou-se como é de bom tom, para a pedir em casamento, mas, com tanta emoção junta, e como se dobrou sobre o estômago, parou-lhe a digestão e vomitou.
Foi, para a Monstra, a derradeira prova de amor.





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