domingo, 19 de maio de 2019

Um Rascunho Para #Noite_junina



Do lugar onde estava, via a cidade
trespassar as cortinas de renda,
para entrar dentro do restaurante,
enquanto eu ia virando o corpo.
ora para um lado, ora para outro,
criando, no espaço segmentos
de conversa,
que se projetavam nos vidros das janelas
passando a superfície de todas as cabeças,
até atingirem a parede exterior.

Observava eu, os músculos
tensos nos seu pescoços,
que eram, para mim,
a linguagem  mais verdadeira,
que me podiam oferecer,
quando alguém
me interrompeu os pensamentos
para lamentar a ausência de
guardanapos de papel.

(Um outro foi levado a relatar-nos
como, uma ocasião,
tudo se demoronou em seu redor.)


(Pingos de estearina  caíam-me nas mãos,
em concha, enquanto ele falava,
mas mantive-as assim o tempo necessário)

Em evidência, bem no centro
da sala, uma  fonte de
água límpida, e potável,
de onde, se quiséssemos, podíamos
retirar  algumas gotas  para fazer
as flores de açucar.

Lá fora, uma multidão de mulheres,
e homens sem rosto,
esperava pacientemente.
Formaram, já, uma fila ordenada
que contornava várias vezes o edifício.

Sentados à mesa falámos, ocasionalmente,
da morte.
Foi uma conversa pequena,
de cinco ou dez minutos, nem  a cidade
chegou a parar
de passar em frente às janelas
e atravessar as cortinas de renda
para entrar no restaurante.








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