domingo, 5 de maio de 2019

Saudade

Quando o avô Casimiro morreu, ninguém queria obedecer à sua última vontade.
Tinha demonstrado forte interesse em que fosse escrito na sua lápide "Hei-de  Atormentar-vos", mas, claro, ninguém queria assumir a responsabilidade de tal ato.
E tanto tempo demorarm a mandar inscrever na pedra aquela bizarra frase, que, um dia, quando um dos seus queridos sobrinhos netos, atormentado pela #saudade, lhe foi levar umas flores ao cemitério, e esperava ver um mármore liso e brilhante inclinado sobre a campa, espantou-se de lá ver escrito muito toscamente, "Então? Estão À Espera De Quê?"
Convenceu-se, evidentemente, que o seu estimado tio avô tentava comunicar com ele através da escrita na pedra, e resolveu responder-lhe usando um marcador fluorescente, que trazia sempre no bolso esquerdo.
"Está Quase" escreveu, e foi-se embora para avisar os outros da impaciência do defunto.
Já era noite cerrada quando se reuniram para deliberar quem comandava a expedição, e acabaram por partir sob as ordens do Jeremias que era o que desenhava melhor e tinha a voz mais grossa.
Chegados ao local, ele, e outros dois,  acocoraram-se junto ao chão e começaram a retirar o material para a escrita, mas eis que uma mão cadavérica eclode da terra e lhes rouba a mochila.
"Mau-Maria, já está a passar das marcas!", afirmou Drizela, enquanto escavava terra a toda a velocidade, tentando encontrá-lo. para o chamar à razão.
Julieta sorria discretamente. Ninguém conhecia tão bem o avôzinho dela como ela. "Traquinas que eu sei lá!", pensava enquanto afiava os dentes no velho castanheiro, que se contorcia de cócegas.
"Até depois de morto não pára de brincar!"
Foi quando Drizela foi puxada para debaixo da terra, e rapidamente engolida pelo chão.





















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