quinta-feira, 16 de maio de 2019

Doris

Do lado direito da velha estrada que serviu em tempos a circulação de carros de bois e carroças, e onde passa agora apenas um automóvel  de vez em quando, e seguindo para poente, há um pequeno casario mesmo no cimo de uma elevação.
Naquela tarde, #Doris_Day dormia a sesta em frente ao castanheiro que crescera numa lateral da capela, enroscada sobre si própria, com a cauda acompanhando a curvatura do corpo enrolado.
Devido às suas extrordinárias capacidades de felino, apercebeu-se de um odor anormal, ouviu com alguma nitidez aquilo que para um ser humano não passaria de um murmúrio ou de um zumbido, pressentiu a possibilidade do perigo do desconhecido, e olhou na direçao da azinheira.
Em cima da árvore estava uma figura extraordinária, vestida de mulher, e com o sorriso mais encantador que alguma vez um gato viu.
A sua primeira reação foi dar um salto, ágil e rápido, para fugir dali, e assim fez, correndo até atingir uma distância segura, e escondendo-se atrás de um amontoado de giestas.
De lá, pôs-se à espreita, na tentativa de entender o que lhe era completamente desconhecido.
O seu instinto de sobrevivência comungando com as suas ancestrais reminiscências de animal caçador, fizeram-na preparar-se para atacar.
Iniciou então, uma corrida rápida até atingir a velocidade necessária para um único e cirúrgico salto.
No momento certo e perfeito, lançou o seu corpo elástico acrobaticamente sobre o mato, e aterrou no longo vestido da criatura, onde se agarrou com as unhas.
Imediatamente a seguir cravou-lhe os dentes no antebraço.
A figura de contornos humanos desiquilibrou-se, e os seus dedos, longos e escamudos, que rodeavam, com força, os troncos que agarravam, abriram-se, displicentes, por causa da dor que a dentada lhe provocou, e ela caíu desamparada.
Todavia, assim que tocou o chão desintegrou-se, sem deixar qualquer vestígio, o que faz com que, ainda hoje, Dorys duvide que este episódio tenha realmente acontecido.

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