sábado, 11 de maio de 2019

Merlin

Merlin olhava para o caldeirão, desapontado.
Não se lembrava, depois dos cento e vinte anos a memória começou a falhar-lhe, e ainda era muito novo. todos lhe chamavam a atenção, dizendo, vai ao médico que eles dão-te qualquer coisa para isso, mas ele andava a evitar.
O que é facto é que lhe faltavam os termos, muitas vezes cruciais, para fazer transformar as coisas, que punha dentro da panela, e que se modificavam pela ação do fogo.
Até a sopa de beterraba,e a compota não lhe tinham saído bem, quanto mais o feitiço cuja fórmula precisava de ser proclamada por alguém que contivesse sabedoria ancestral no seu curriculum.
Se a técnica fosse conduzida na perfeição, transformaria um balde de excrementos em ouro e distribuí-lo-ia pelos menos afortunados.
Mas não se lembrava das palavras chave, e as excrecências iam borbulhando, já passando do ponto mágico da magia.
Procurou os apontamentos que tinha num bloco de notas muito velho, guardado num canto qualquer.
desviou as abóboras e outros legumes que por ali tinha sobre as bancadas, espreitou atrás da torradeira, abriu as gavetas, animais de porte pequeno saltaram assustados, de lá de dentro, e alguns rastejantes fugiram  pelas reentrâncias, mas o bloco, nada, não estava em lado nenhum.
Voltou a correr para junto do esturgido, para o mexer com uma colher de pau gigante, para não deixar queimar o produto, quando se lembrou de repente, e muito graças aos céus, do que tinha para pronunciar.
O feiticeiro imediatamente prendeu, com um elástico, os seus longos cabelos brancos, e abeirou-se do lume, abrindo os braços e as mãos para invocar outras forças.
Concentrou-se nos poderes desconhecidos da mãe terra, e vociferou como se a voz não partisse dele, mas sim de algum dos deuses imensos que nos observam:
"#YOLO XABREGA!"
O resultado foi imediato, no conteúdo do panelo uma reação química  manifestava-se, e o que era acastanhado começou a ganhar um bonito tom amarelo.
Conta-se que, no dia seguinte, todos os pobres do reino tinham, surpreendentemente, um pequeno lingote dentro da malga do pequeno almoço.










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