quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Jasper

A Dona Clotilde tinha imensas alergias. Podia ser o polén das flores, os ácaros do colchão, um simples morango, o que é certo é que passava o tempo a espirrar, ou com pequenos eczemas pelo corpo fora, ou lhe caía o cabelo como se não houvesse amanhã, ou ainda, tinha comichões terríveis e via-se obrigada a tocar castanholas para acalmar.
Eu, que vivia ali ao lado, convidava-a bastas vezes a beber um chazinho, e, se viesse pela hora do almoço, partilhávamos as minhas papas de esparguete com vinho tinto.
Um dia, estava ela sentada no sofá da minha sala, lembro-me que, entretida a arranhar os braços do dito, até se esqueceu de tirar o chapéu em forma de cabeça de unicórnio, um modelo muito em voga naquela época. mas como ia dizendo, conversávamos calmamente sobre desastres mundiais e outras animações, quando ela começou a sentir-se esquisita.
"Não me digas que fizeste chá de #jasper, sou alérgica a isso!" e começou a esbugalhar os olhos, de tal forma que lhe saíram das órbitas até ficarem mesmo ao pé de mim, junto aos meus.
"Ai o jasper, desculpa, já me tinhas alertado!"
Os seus pés cresciam desalmadamente, já tocavam as paredes, e eu já não sabia onde havia de me meter.
Vinte minutos depois desta agonia, a boa da Clô começou a acalmar. os seus orgãos começaram, lentamente a voltar ao normal, e pude sair detrás do armário.
Escusado será dizer, que chá de jasper, nunca mais.






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