sábado, 2 de fevereiro de 2019

Um rascunho qualquer, depois se verá

Deu um murro na mesa.
Por isso que o seu corpo vivo continuava a deslumbrar.
O vento fazia correntes de ar debaixo das portas.
nada a dizer, nada a dizer sem me dizerem o que diga, o que conte, ia a velha  falando com os seus botões.. Saíu de dentro de casa com os pés frios, as mãos brancas e enrugadas sobre a pele.
Os seus dedos compridos pareciam garras, os dedos compridos com as unhas amarelas.
As cartas voaram por causa do gesto brusco e da movimentação do ar, lançou-as à parede e a seguir arranhou a tinta o mais que pôde, Não podia gritar mais. era um cato que pendia, uma varanda com azáleas e camélias brancas que ficavam, um sexo desconhecido, por amor à vida,  uma melodia impossível.enrolada nas cordas nodosas do tempo..
Apanhou a roupa do estendal, o vento que entrava pelas portas era o mesmo que corria lá fora tão intensamente que tudo se virava do avesso, numa confusão de molas de todas as cores e a mulher viu-se aflita, dobrada assim pela cintura sem conseguir mexer-se.
Lá em baixo a vizinha esganiçava a voz, mas o vento, levava na mesma e felizmente,  o seu tom irritante para longe.
Se não a percebo, o que quer ela? resmungava enquanto desenrolava, desenrolava debaixo da ventania.
O ás de copas instalou-se aos seus pés,  em frente ao vaso vazio, à espera de inquilinos, vinha do chão da sala, numa corrida louca, "Também tu para me enfernizares", as folha soltas esvoaçavam em volta do seu corpo instável e fraco. as folhas e as cartas, o três de paus, o cinco de ouros, o rei de espadas.
O rei de espadas, estav febril e pálido, mais muito mais musical do que possamos imaginar.
Entrou a custo, a porta teimava em não fechar com a força da natureza a empurrar a sua debilidade.
e ela do outro lado, fazendo força, encostando-lhe  um ombro e utilizando o peso do corpo.
A mulher foi ao quarto, atirou a roupa para cima da cama. mas caíu alguma , e o gato, atento à roupa lavada, aproveitou, e deitou-se sobre ela, construindo uma espécie de tenda.










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