domingo, 24 de fevereiro de 2019

trinta anos, jornada três

Já lá vão trinta primaveras acabadinhas de completar,
e mesmo assim, nesta altura do ano,
as putas das flores sempre  espantam Bárbara com a sua profusão.
Escondem-se no fim do inverno, atrás dos grandes troncos,
ou dos galhos mais pequenos,
do lixo normal,  acumulado em cantos esquecidos
que a chuva ajuda a produzir,  quando acontece corrida a vento,
cíclica e cinzenta,
e depois basta que os dias cresçam dentro das barrigas
das suas jovens mães,
se tornem maiores e mais luminosos,
que no tempo certo elas florescem,
e não há como desencantarem quem as viu.
O que faz Bárbara quando
debruça os brincos compridos sobre a terra?
Observa o seu crescimento incompreensível, e espera, também,
os  segundos necessários para que
os pigmentos coloridos das suas pétalas,
sejam borboletas que esvoaçam à frente dos seus olhos,
e cujas asas lhe murmuram  ruídos,  próximo dos seus ouvidos.
e lhe rasam o cabelo revolto, onde teimam em se prender.
A cabeça de Bárbara recua, ou avança,  
ao tempo dos morangos, veste-se de violeta sem motivo aparente, 
e vai, simplesmente vai, como acontece  às sementes que vão caindo.


Sem comentários:

Enviar um comentário