terça-feira, 3 de outubro de 2017

Zélia

Se podes entrar?
Não, Zélia, não podes.
De momento não se encontra ninguém no miradouro a contemplar a cidade.
Até é suposto que uma qualquer sonhadora encoste os seus antebraços à grade de ferro, que há-de estar quente pelo calor daquele dia de verão, mas isso será mais tarde.
E também não te estou a ver, por uma qualquer circunstância, a descer a avenida apreciando os bancos de jardim, o passeio largo, os desenhos da calçada.
Ou então, dar de caras com um dia bem chuvoso e escuro, e serem os teus olhos a toparem, refletido, o brilho das luzes dos carros.
E depois, com que sentimento verias a colisão de dois chapéus de chuva, um azul, outro amarelo, Estarias atenta, por acaso,  a essa mera casualidade?
E, se por uma predisposição qualquer da minha cabeça, ali, bem no meio do mau tempo,  viesse a acontecer o abraço de velhos amantes?
Terias tu capacidade para assumir esse papel?
O mais que consigo para ti, Zélia, é que compareças,  ocupando um lugar sentado no autocarro que irá cheio, em direção ao Largo do Rato, mas promete que passas sem dizer uma palavra.
Melhor ainda. Tenta dormitar, logo na primeira paragem, e acordar mesmo na última, para não interferires em nada neste lapso de tempo de uma pequena história.

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