segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A Família

Ao jornalista tanto lhe fazia uma calamidade com inúmeros mortos, como um fabuloso espetáculo de circo. Debitava todos os assuntos com igual entusiasmo.
A verdade é que também não lhe  prestava muita atenção. Estava concentrado na meticulosa tarefa de cortar com os dentes a pele de uma unha.
Via perfeitamente o ecrãn por entre os pés, que repousavam sobre a mesa de apoio, e a barriga, assim deitada ao pé do gato, também não lhe retirava a visibilidade.
Na cozinha, a mulher a arrumar as compras, deu com o vermelho dos morangos, lembrou-se duma marca de baton, mas logo a seguir lembrou-se que se esqueceu de comprar um ou dois pares de luvas de borracha, e também se deu conta de que o som da televisão estava demasiado alto.
O filho,  alheado no seu quarto, coisas de adolescente, como que desativado naturalmente daquele espaço que ocupa uma casa, e de todo o seu conteúdo. Era bom rapaz, só não lidava bem com os cabelos brancos do avô. Pareciam-lhe sempre um desastre inevitável e antigo. De resto, quando era necessário, punha e tirava a mesa, e era por isso, e só por isso que não apreciava tanto assim os almoços de domingo, passados em #família.















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