domingo, 8 de outubro de 2017

Eletricidade

Há muitos, muitos anos atrás, quando o planeta parecia muito maior do que parece hoje, as distâncias eram quase intransponíveis, e ainda faltaria muito para a utilização da eletricidade, um homem de grandes barbas, sentado em frente a uma  secretária, passava os seus dias a escrever.
Não escrevia nada de muito especial, nada que mudasse verdadeiramente o mundo, ou que ajudasse a resolver intrincados problemas da sociedade.
Sómente ia molhando, num ato contínuo, a pena na tinta, e com ela preenchia as folhas com maravilhosas e mirabolantes histórias de encantar.
Às vezes parava, buscando a melhor palavra, ou a melhor frase, e para isso fixava os olhos nos barcos atracados no porto, visíveis pela janela que lhe dava a luz necessária para a continuação do seu ofício, ou, ainda que não fosse um ofício, seria pelo menos, aquilo que mais apaixonadamente sabia fazer.
O homem não tinha a noção, sequer, se as suas histórias seriam alguma vez lidas, nem tinha qualquer perceção de que elas atravessariam fronteiras, e, sobretudo, transporiam o tempo, como só a arte o consegue transpôr.
Apenas olhava os barcos no rio, e molhava a pena, repetidamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário