segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Sem Abrigo.

Reza a história que uma vez um homem muito endinheirado  passeava pela Av. da Liberdade, logo pelo fresco da manhã.
Tinha por hábito, àquela hora tranquila, parar debaixo das arcadas para dar uma olhadela à roupa elegante dos expositores,  e assim fez, prestando particular atenção a um belíssimo blusão de cabedal.
Pôs-se então a apreciar a montra, quando lhe pareceu  sentir movimento, num canto, onde estava um monte de cartões.
"Olha os cartões a mexer...",, e, intrigado, ficou a observar.
Qual não é o seu espanto, quando  das placas de cartão, que se abriram lentamente, como as pétalas de uma flor, emergiu um sem abrigo!
Um não, uma. Uma mulher sem abrigo e sem  dentes, mas ao mesmo tempo tão linda! Foi amor à primeira vista, porque, é claro, também ela  se deixou fascinar por ele, que isso do amor é coisa para dois, e fez o que nunca fazia com ninguém, ofereceu-lhe um golo da sua garrafa.
Ele aproximou-se um pouco, sentiu melhor um odor que até então os seus sentidos desconheciam, mas tão poderoso, dir-se-ia que quase vivo, quente, e estendeu a mão para aceitar a bebida. Foi quando ela lhe pegou na outra mão,e, aproveitando o impulso, se levantou e começaram a dançar no meio da rua, sem conseguir controlar a  felicidade.
E tanto dançaram, que foram parar aos Restauradores, onde se sentaram a descansar, e a dar milho às pombas.
A verdade é que ainda hoje a praça está cheia dessas aves.



















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