terça-feira, 28 de julho de 2020

Um #Damasco Diferente

Ontem,
queria escrever um poema,
mas estava muito cansada,
não consegui.

Assisti à impossibilidade
de o ver
escorregar da minha
garganta até ao papel,
esse papel
que eu espreitava,
pelo canto do olho,
tomando a forma
da areia
que ampara as quedas
da criança que  desliza
no escorrega
do parque infantil.

Com grande experiência
de situações análogas,
já sabia, de antemão,
o que iria acontecer.
O pensamento desintegrar-se-ia
desligado de si mesmo,
não conseguiria tomar forma,
jamais.

Ficariam as suas palavras,
soltas,
circulando por mim,
aleatoriamente,
sem direção ou sentido,
como uma doença
intoxicante,
que, com o tempo,
acaba por desaparecer,
sem que ninguém
se aperceba.

Se não nasceu,
em boa verdade,
não existe,
logo, não provoca
nem alegria, nem dor,
nem gargalhadas,
nem raiva,
nem cores.

Só a mim me incomoda,
esta irrealidade
imposta pelo relógio
digital do fogão
indicando
um tempo que já passou.

Era ontem  que
ele voava na
minha cabeça,
único e
insubstituivel.

Ficou-me a pouca convicção
das flores,
do poder encantatório
do mar,
da capacidade purificante
da chuva
nas copas
das árvores,
da singularidade das coisas
esperando.


Mas basta uma noite de sono...




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