quarta-feira, 1 de julho de 2020

Encantado pelas folhas em branco, o poeta prosseguia no seu mundo.
Amanhã, lá pela manhã, ou pela tarde, iria mudar de letra.


Tinha olhos tão transparentes, que passavam pela água, tal como se dela fossem constituídos, até atingirem os seixos soltos que se arredondavam nesse movimento antigo e fundo.
A matéria dançava à sua frente, tão lenta como o movimento ondulatório da mãe.
Não é culpa minha! gritava do fundo do mar sufocado, da placenta salgada, se a minha vida era assim, alegre e muda, mas depois veio a bonança e

Amanhã, lá pela manhã, ou pela tarde,
vou mudar de letra.

Abriu os olhos
e arremessou-os contra a água,
até ao fundo do leito
de um dos braços do rio douro.


os seixos arredondavam,
aos movimentos ondulatórios da água.
Conversavam.
A minha vida era assim, alegre e muda,
mas depois veio o poeta dos olhos transparentes e deu conta de nós,
de tanto olhar com muita atenção distraída,
da nossa existência.




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