sábado, 25 de julho de 2020

Isaltina

Minha doce Isaltina

Acabei de reler umas cartas que te escrevi, encontrei-as por acaso, no bolso do avental, quando procurava outras coisas que me faltavam, nomeadamente a dentadura que comprei para o piriquito, havias de ver, é muito agradável olhar para ele e vê-lo a sorrir com aqueles dentinhos falsos  que os chineses tão bem se lembraram de inventar, e também umas azeitonas que me escaparam das mãos quando ontem fiz aquele bacalhau de forno, sim, esse que tu te lembes toda para comer, mas enfim, o que encontrei foram os rascunhos das cartas que te enviei o ano passado, por esta altura das férias.
O que sei é que fiquei doida para te escrever novamente, a contar-te as novidades todas do que se passa por aqui.
As praias são do mais bonito que há., a da #Açoteia, então, que só tem um bocadinho de água, pouco, essa adoro mesmo.
Estão muito bem apetrechadas, têm uma assistência cinco estrelas, vê lá que outro dia o Gonçalinho deu-me um grande pontapé. Ele não teve culpa. Havia muita gente e combinamos cruzar as toalhas e eles porem os pés para a minha cabeça. Assim, e como há muita gente,  poupávamos um pouco de espaço na areia. Sempre o fizemos desde que vimos para estas belas paragens todos juntos, mas agora cresceram, não têm mais aqueles pézinhos de criança, vê só, o Gonçalo já calça o quarenta e três e a Constança para lá caminha, de forma que às vezes é perigoso.
Até agora não tinha acontecido nada, só umas nódoas negras, que aliás, devo dizer, eles pedem sempre desculpa à avó, e desta vez até foram comigo ao centro de saúde, bem, o Gonçalo não tinha outro remédio, o dedo grande dele prendeu-se-me no nariz e foi o cabo dos trabalhos, até para os médicos conseguirem separar-nos.
Mas não te aborreço mais com estas ninharias. O acidente não teve praticamente  sequelas, o doutor apenas disse: "Vai lá, vai! A senhora vai ficar com uma narina de tamanho astronómico!", usam cada palavra, olha, pensei que fosse uma coisa boa, que tivesse a ver com o alinhamento das estrelas, ou ou algo semelhante ao que tu aprendes lá com o barbudo, nunca imaginei que o Duarte, o pequenito dos que alugaram o sexto B esta quinzena, me estivesse agora constantemente a pedir para enfiar pás de areia por aqui abaixo. Olha, a areia seca ainda se tolera, mas, a que está molhada, incomoda um bocadinho o sal a passar na garganta, mas pronto.
Ai o que já vai para aqui de escrita. Isto são saudades tuas,. Tuas e do Marcelo. Esse teu marido, nunca vi um velhote tão irrequieto. E culto! E que bem que ele vê televisão e come ao mesmo tempo, sem nunca largar os dois  comandos! E quando ele pega nas laranjas ou noutra fruta qualquer, às vezes até melões,  e faz pontaria às moscas? Tão certeiro! Um artista e dos bons!

Cumprimentos para os dois e até breve, da vossa....



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