segunda-feira, 22 de junho de 2020

Cintilava debaixo duma bota de verão, mas libertou-se a tempo de subir no ar, refletindo na súbita e bizarra ideia de nascer, o preparou a subida às alturas numa aventura desmedida e não de largos segundos, que terminava com o metal a ser engolido pelo chão.
Era apenas um sopro sem consistência, quando lhe veio à ideia, naquela aventura interminável de querer chegar ao patamar superior, sem a força do peso dos corpos que ela transportava, em sentido descendente, ordeiros, dispostos em degraus.
Rebeca, ao cruzar os olhos na única mulher que subia, exausta e timidamente só, apeteceu-lhe ser concebida mesmo ali, por entre os movimentos ondulatórios do metal.

Cintilava debaixo de uma bota de verão
quando lhe veio à ideia,
a súbita e bizarra vontade de nascer.
Havia tempos infinitos
até o metal ser engolido pelo chão,
até os degraus se desfazerem.
tempo de conjeturar que a consistência
de um sopro não é  suficiente
para atingir a felicidade.
Vejam-se as  nuvens que pairam por aí,
seguindo as correntes do vento,
sem que conte o peso dos seus corpos em nada,
gravitando, maleáveis, sobre o orvalho gasoso.
Seria vergonhoso, um dia,
reconhecer ter sido concebida
nos movimentos ondulatórios dos degraus,
enquanto ainda eram degraus,
e o chão não os engolia ao ritmo
vagaroso das ondas.

E enquanto a sua mão sem vida
se via impossibilitada de tocar nas coisas.
Foi, sobretudo a mala da mulher,
que fazia a #volta ascendente,
e que lhe brilhava,
um pouco abaixo  do cotovelo,
quase perfurando o céu cinzento,
um verdadeiro sol a querer romper
o nevoeiro matinal,
que a fez querer ser viva e presente
libertar-se do céu das estrelas
esses meros pontos de luz inalcançáveis.






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