segunda-feira, 22 de junho de 2020

Após ter refletido demorada e profundamente sobre o assunto, Rebeca nasceu.
Tinha iniciado este tipo de pensamento ainda era apenas um sopro, uma partícula invisível que o vento levava para onde queria, sem ela ter qualquer possibilidade de concordar ou discordar dos sue próprios movimentos e que lhe era imposta, como acontece com as nuvens  que pairam por aí, por todo o lado, sem qualquer modo próprio, ou vontade, embora fizesse, bastas vezes, os caminhos em sentido contrário, mas sem o direito de opção.
Nesse mesmo dia, tinha subido, pelas escadas rolantes, vendo tantos outros descendo, para os seus empregos solitários, na subida vagarosa, parados num degrau sem posição. O metal ia sendo comido pelo mecanismo elétrico, enquanto Rebeca, e, quando chegava ao topo, o degrau desfazia-se por baixo do chão.
Foi durante essa  viagem interminável, que Rebeca decidiu nascer, enquanto olhava para tantos olhos olhando em frente, e tantos corpos ordeiros, condicionados pelos deveres.
Rebeca quis ser como eles.a sua vida etérea estava presa por um fio e então pediu aos deuses para que a ajudassem nessa tarefa importante, ou mesmo crucial, de nascer.
Cintilava debaixo duma bota de verão, mas libertou-se a tempo de subir refletindo na súbita e bizarra ideia de nascer, o que transformou a subida numa aventura desmedida e estática, eram  largos os segundos que a escada levava a subir.
Aproveitou o espaço entre três filhos que se acondicionavam o melhor que podiam nas linhas direitas e estreitas da escada rolante, e fez a viagem ascendente,  e, sensivelmente a meio do percurso,  passou por ela cruzando olhares.
estava traçada a linha da sua vida, era o zero de um gráfico a primeira coordenada fundamental.
Rebeca é  uma linda menina de dois anos, concebida nos movimentos ondulatórios do metal, do gosto pelo regresso contrário. pelo gasoso, ou pelas gotas de orvalho, afastadas de Rebeca tanto quanto a sua mão inexistente estava impossibilitada de lhe tocar.
Era por isso que decidira adquirir um corpo vivo e presente, nada comparável às estrelas, meros pontos de luz inalcançáveis.
Nessa altura, fazia o caminho de mão dada, até atingir a idade adulta e comprar uma mala amarela que usava orgulhosamente, e que brilhava como um sol que perfurasse o céu cinzento, primeiro devagar e toscamente, e depois conquistasse, lutando como um escravo do tempo, a libertação total.









Sem comentários:

Enviar um comentário