quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Berretaba

Foi um crime muito violento, daí ter sido tão noticiado na época.
Duas cenouras entraram, armadas, aproveitando uma janela aberta nas traseiras da casa, e mataram-nas, a sangue frio, com vários golpes de faca.
Surpreenderam o casal, sentado no sofá, a ver um programa de televisão muito interessante sobre o sofrimento dos legumes em tempo de seca,
Bebiam, distraídos, o café
A espuma do café ia desaparecendo para dar lugar ao líquido, em fabulosos processos químicos, apanharam-nos pelas costas e desferiram sobre eles vários golpes de faca.
O alho françês escondeu-se, mas a rama percebia-se por detrás da porta.

O jantar não podia ter sido mais romântico.
Logo no início, quando comiam as entradas, ele meteu os dedos dentro do prato gorduroso, e  atirou-lhe para cima, nervosamente, um pedaço de cogumelo salteado, tentando acertar-lhe no bolso lateral da camisa.
Ela, corando, respondeu à provocação cuspindo-lhe  pequenos pedaços de queijo para os olhos .
Foi o suficiente para sentirem uma química muito especial entre ambos.
Mas só perceberem que seriam um do outro para o resto das suas vidas, passados uns largos minutos, quando sorriram com a belíssima cor da #beterraba incrustada nos dentes e na língua.
Então riram tanto, e tão alto, que os vidros, os cristais e as outras louças, durante vários minutos, tilintaram violentamente, o que se comunicou ao resto do edifício, e percorreu todas as ruas possíveis, até preencher a cidade com o chinfrim mais encantador alguma vez ouvido por aquelas paragens.





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