quarta-feira, 14 de março de 2018

Ulm

Eu resolvi ir tomar banho, mas escorreguei ao lado da banheira, e caí.
Então comecei a gritar: "Acudam! Acudam!" mas estava sózinha em casa e ninguém me acudiu.
Os filhos? Eu tenho filhos, mas não ligam, e depois de cair senti sobre a cabeça o varão da cortina e perdi os sentidos.
Foi já no outro dia que a vizinha me bateu à porta e eu chamei como pude, e ela ouviu.
Chamou os bombeiros e eles trouxeram-me para aqui, mas eu sinto-me bem, não tenho nada de especial.
Os filhos? Os filhos não estão, não me visitam, só os vejo no Natal, este ano, o mais velho, o Luis, ofereceu-me uma mantazinha para as pernas, bem quentinha, e bonita, aos quadrados azuis e brancos, e eu uso-a sempre que tenho frio. A menina, que é a do meio, a Maria, deu-me uma mala beje, pequena, ela sabe que eu gosto de malas pequenas para não andar com muito peso.
O mais novo, este ano não pôde vir. Está lá para a Alemanha, para #Ulm, nem sei como se diz isso, e ele ralha sempre comigo. "não é assim que se diz, mãe!" Este meu filho lá telefona de vez em quando, preocupa-se, deu-me um telemóvel para eu andar sempre com ele, mas eu não me ajeito, já nem sei o que lhe fiz.
Mas eu não tenho nada, já nem me doí, eu já disse, deixe-me ir embora, tenho lá dois gatos, que me fazem companhia, não se preocupe, está tudo bem.






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