sexta-feira, 9 de março de 2018

O Monstro Não Tem Nome

(O padrão da água no vidro
perturbava a paisagem do
lado mais barulhento)
.
Não se lhe vêem os traços
mas sim os braços
hastes pendentes
que formam quadrículas, teias,
e porque os
cabelos e as barbas movendo
será, muito naturalmente,
 o vento que lhes dará a vida.
mas é assustador,
ainda que dali não saia
preso à mãe pelo tronco.

Vejo-lhe o nariz,
e nas ramificações,
veios vaidosos, redes
de renda impossível,
sem esquema.

As órbitas, buracos impreenchíveis,
tanto no inverno,
como em copa frondosa, no verão,
e então por elas
se espreita
para o outro lado da estrada.

E as pessoas passam,
são-lhe invisíveis
e vice-versa, só eu o vejo,
o conheço,
mas porque estou no ângulo certo,
na inclinação perfeita,
no ponto estrelar que dá acesso
direto, direito legal
ao seu ar misterioso.

Nem me aborrece
o seu tamanho
desmesurado,
nem os movimentos basculantes
do seu corpo,
nem a presumível maldade
do seu aspeto.

É a força vital das folhas
dos meus olhos nos plátanos,
e o seu sopro
em rajadas por dentro
que um dia livre e presa
ao mesmo tempo
terei que abandonar,
ou serão cortadas,
e com elas morrerá
o monstro.












Sem comentários:

Enviar um comentário