quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A Rã

Já há uns dias que andava meio aborrecido com a esposa, mas nessa manhã, quando acordou e se virou para o lado, verificou que a mulher se tinha transformado numa rã.
_Ahhhh!_
_O que foi, querido? Tiveste um pesadelo?_ e a senhora estendeu a sua pata verde e húmida para lhe fazer uma festa.
Levantou-se de um pulo, vestiu-se o mais rápido possível, e saíu sem sequer fazer a barba ou tomar banho.
Na rua circulavam rãs do tamanho de pessoas, e no café onde foi beber uma bica, também só se viam rãs. Umas liam o jornal, de perna traçada, outras estavam sózinhas e silenciosas, e outras ainda coaxavam animadamente.
"O que é que se passa, meu Deus? Será que me fez mal o caldo verde que comi ontem ao jantar?"
Foi então que ouviu uma voz que lhe disse o seguinte:
_ Como vês, depressa ficamos no lodo. Para saíres desse charco terás que "amar pelos dois"_
_Mas quais dois? Não estou a perceber nada!_
_Quaisquer dois. Não te faças de estúpido! Por seres assim é que te acontecem essas coisas!_
Passou então o dia a pensar no assunto, e verificou que a voz, fosse lá de quem fosse, tinha toda a razão,devemos sempre fazer as coisas por dois, seja amar, ou odiar, ou o que  fôr, e, foi com esta convicção profunda que chegou a casa, ao fim do dia. Talvez por isso,a mulher, felizmente, já tinha adquirido o seu aspeto normal.
Mas quando, aliviado, se chegou ao pé dela para a cumprimentar, reparou que dos óculos ainda lhe pendiam meia dúzia de limos.

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