terça-feira, 15 de agosto de 2017

Uma Barata

Este é o caso particular de uma barata que não era nojenta.
Arranjava-se, muito bem arranjadinha, usava maquilhagem e belas fatiotas compradas em lojas de alta costura, e passeava-se, vaidosa, mas sempre no seu perímetro de confiança, dentro da sua zona de conforto.
Um dia, curiosa, resolveu subir uma parede, mesmo ali, motivada pelo odor maravilhoso de um caixote do lixo do primeiro piso, e cujos donos eram um bocadinho desleixados.
Lá se atreveu, a escalada era, como previra, bastante fácil, e foi por ali fora, ao som do tilintar de milhentas pulseirinhas que trazia nas patas, e que batiam umas nas outras com os seus rápidos movimentos.
Quando finalmente atingiu o chão da cozinha em questão  viu uma senhora, um bocadinho desgrenhada, que preparava comida com a sua grande barriga encostada ao lava louça.
A mulher nem reparou como ela estava bonita. Deu logo um enorme grito e chamou o marido para a vir ajudar.
O homem lá veio, contrafeito, porque teve que interromper um debate televisivo sobre as pífias da política internacional, aproximou-se, e o nossa princesa inseto só teve tempo de ver uma sola de chinela a crescer desmesuradamente sobre ela, até lhe tocar nas antenas e formar uma sombra tenebrosa em todo o seu redor, e muito rapidamente o seu exoesqueleto estalou, fazendo aquele ruído asqueroso característico dos exoesqueletos a estalar, e ela morreu esborrachada, o que constituiu para aquela família, bem como constituiria para maioria das pessoas, mais uma estrondosa vitória.

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