quinta-feira, 28 de julho de 2016

Queque (Enciclopédia Ilustrada)

Tudo começou com um queque.
Logo pela manhã o homem estava encostado ao balcão, a beber um café e a comer o tal do queque. Era um homem bem vestido, bem barbeado, cheiroso. Era o diretor do departamento.
Não sei que jeito deu às mãos, que lhe caíu o queque no chão. Baixou-se para o apanhar, e, ao levantar-se, deparou com ela. Linda!
O cabelo grisalho, a farda às riscas finas, verticais, azuis e brancas. Ela sorriu-lhe, com o ligeiro buço, e a falta de um dente.
_Bom dia, senhora! Como se chama?_
_Ermelinda!_
_Sentamo-nos? Pago-lhe o pequeno almoço. Gosta de queques?
_Adoro, Dótor! Adoro!_
_Também eu! Todos os dias como um. Que coincidência!_ disse o diretor, entusiasmado._Olhe, também vou pedir mais um para mim!_ Uma certa fragrância a desinfetante estava a deixá-lo enebriado.
Deu um belo casamento, este amor improvável. Uma festa de arromba, em que o bolo de noiva foi um queque de vinte quilos, em homenagem ao dia em que se conheceram, enfeitado com meia dúzia de passas.
(É claro que isto aconteceu mesmo. Não me atreveria a inventar tamanha idiotice!)

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