quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Uma conversa parva

Ela, que todos sabiam ser de poucas palavras, veio-me um dia com a conversa parva de que havia pessoas que, com os olhos  viam as cores dos outros.
Eu, que sou precisamente o oposto, muitas palavras preciso eu dizer, caramba, expliquei-lhe exaustivamente o meu ponto de vista, que olhos e cores eram o mesmo, sem os primeiros  não havia os segundos, e vice-versa, tudo fazia parte de um conjunto fechado, de números finitos, e frisei muito bem esta última parte, que era matematicamente importante,e, para além disso, era a primeira vez que tinha uma camélia, ainda por cima estava cheia de botões, e, se os gatos, nas suas travessuras, não os estragassem, iria ter , então, uma camélia em flor nesse ano.
Ela fez o gesto de se ir embora, mas eu, melosa, prossegui.
"Espera..., por #caridade ouve-me! Referes-te às cores dos olhos de cada um ou à cor da pele, ou á cor das suas camisas, ou à cor dos seus braços sujos? Pois, se calhar nem te ouvi bem, porque estava a olhar para alguns pontos cintilantes fora da minha zona de conforto, o que é que queres, distraío-me com tudo. mas também, repara, tanto podem andar por aí, a brilhar,  memórias recentes, veados, por exemplo, frescos e verdes, como outras mais antigas, repescadas lá mais para o fundo, se calhar até mais quentes, e como sabes,cabe-me a mim unir esses pontos de luz.
E assim, em catadupa, fui perguntando e respondendo, enquanto a olhava, e ela, que nem se mexia, durante todo o tempo em que falei, apenas uma vez levantou, ligeiramente, uma sobrancelha, e outra semicerrou os olhos, condição necessária para que as suas longas pestanas se movimentassem, embora impercetivelmente.






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