terça-feira, 18 de julho de 2017

XVI ( Escrito para EI com ideia exterior)

As suas visitas são imprevisíveis. Sobe a árvore com destreza, percorre, em passos rápidos, o galho virado para a janela, e, num salto elegante, projeta-se para dentro do quarto, indo cair em cima do tampo da cómoda.. Aí, cheira desinteressadamente o perfume ou um livro abandonado que por lá esteja, e senta-se, em pose altiva, com a cauda enrolada à volta do corpo.
Quando a janela está fechada, equilibra-se no parapeito, e arranha uma ou duas vezes o vidro, para que a deixe e...ntrar.
Usa sempre um chapelinho colorido, e muito fora de moda, que tanto pode ser em rosa vivo, e cujo acessório são duas margaridas, como em verde garrafa com violetas, ou em azuis, turqueza e petróleo. Neles prende, por vezes, com um alfinete próprio, não umas flores quaisquer, mas sim as de cada época.
Já me explicou porque são os chapéus de dimensões tão reduzidas. Para que não lhe prejudiquem os movimentos. Tem que atravessar passagens muito estreitas, dar saltos acrobáticos, fazer aterragens difíceis sobre a humidade dos telhados.
Hoje estava muito elegante. Tinha um chapelinho redondo, cor de mirtilo, com uma flor de cera, que é o nome vulgar dado às belíssimas flores da Hoya.
Contrariamente ao habitual, normalmente conta histórias extraordinárias de becos e vielas, rixas violentas, ou paixões noturnas, que só ela vê com os seus olhos apetrechados,
hoje, como dizia, não falou. Limitou-se a tirar o chapéu com uma das patas dianteiras,e estender-mo, para eu ver o que lá dentro estava escrito: #XVI.
Colocou-o, de novo, sobre a cabeça, e saíu por onde entrou.
Quando voltar, espero já ter decifrado o enigma, e espero que mantenha a indumentária, porque tem umas cores mágicas e bonitas

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