domingo, 23 de julho de 2017

Elisa (EI)

#Elisa ia sentada no banco de trás do automóvel.
Entretinha-se, como sempre, assim sossegada, observando o correr da paisagem, ao seu lado, metódica, do outro lado do vidro.
Até à periferia viam-se as fábricas ao fundo, com as suas chaminés, altas e esguias, expelindo rolos de fumo, e no chão, grandes espaços que milhares de flores das azedas ao cobrirem o chão de amarelo, faziam-no parecer um cobertor macio, um tapete para os gigantes pisarem com as suas grandes passadas.
Mas Elisa sabia muito bem que eram apenas uma enorme quantidade de pequenos e persistentes pontos móveis em função da velocidade do carro.
Outras coisas  seguiam, rápidas, como linhas segmentadas ao seu lado.
O céu, imediatamente antes de as dissipar por completo, formava, com as nuvens, novas imagens de coisas efémeras, reais, mas breves,com uma duração média de vida, talvez, de quatro ou cinco segundos.
No entanto, e sabia-o, ia-lho dizendo a mãe, sentada à frente, com o seu descomunal penteado a tapar toda a visibilidade possível para a velocidade da estrada, era inevitável, à passagem do sinal indicativo de proximidade a um excesso de azul no horizonte, e  alertando, também, para outros perigos desmedidos das vias rápidas.
Mas, enquanto a mãe falava,  a sua voz ia ficando abafada por outros ruídos, e ela acabava por se recostar e adormecer, embalada pelo seu próprio pensamento.

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