sábado, 25 de junho de 2022

Para #XS

Uma das minhas avós era tão pequenininha que mal se via.
Nem dava para lhe lavar a roupa na máquina porque passava pelos filtros e ia entupir os canos, de forma que tudo tinha de ser lavado à mão.
Mas isso nem era o pior. O pior é que às vezes não conseguíamos encontrá-la, lá em casa havia o material adequado, lupas, binóculos, e até um telescópio comprámos, mas, mesmo assim, a senhora desaparecia muito e era difícil de encontrar.
Uma ocasião até foi parar ao caixote do lixo, misturada com as cascas de batata.
Um dia, desses fatídicos em que já desesperávamos pensando que daquela vez é que a tínhamos perdido para sempre, fomos encontrá-la numa alface, que era, aliás, um sítio habitual, não sei como ninguém se lembrou, já que a senhora aproveitava este adequadíssimo legume como toilette, foi até o meu filho, o seu neto predileto, diga-se em abono da verdade, que se lembrou disso, e muito bem visto, concordo, pois que lá tinha tudo, grandes gotículas de água para os seus banhos e a sua higiene pessoal, podia fazer as necessidades à vontade, já que quem prepara saladas amiúde bem sabe que há sempre uma ou outra caganita de lesma, ora quem lava de uns, lava de outros, não custa nada, e, realmente, como dizia, lá estava ela, já dentro de um alguidarzinho a tentar subir por aquele material escorregadio, sem conseguir.
O Asdrúbal, que é muito traquinas, o meu sobrinho, filho do Alcides, agarrou no recipiente, viu a avó, e não, não acredito que tenha sido por maldade, foi por ingenuidade, talvez, abriu a torneira no máximo para a ver rodopiar com a água só com a cabecinha minúscula à tona d' água.
Ele é bom rapazito, eu sei. Quando se apercebeu da palidez da senhora, retirou-a imediatamente, agarrou-a pelos pézinhos e sacudiu-a para que expelisse todo o líquido dos pulmões, já por este gesto se vê.
É complicado quando se tem uma bisavó #XS.

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