domingo, 22 de novembro de 2020

 _Sabes o que é, Celeste, é que as pessoas são curtas de vista e franzem os olhos para nos ver, e às vezes até param um bocadinho para se concentrarem melhor. Quanto mais olham, mais curiosas ficam. Esta gente é  muito curiosa, realmente, Celeste. Não têm que fazer, se tivessem não ficavam tão entretidas connosco. Mas deixa lá. Olha ali._

Isilda apoiou-se numa das canadianas e levantou a outra para apontar na direção que pretendia.

_Aquilo não são #demagogias? Olha que são... Eu conheço a árvore.  A minha avó tinha uma. E se eram boas! Era a única na aldeia, ninguém mais conseguiu, por causa da geada. Queimavam todas. Mas aquela estava ali num canto, protegida, e ia-se safando. Agente sentávamo-nos lá debaixo e era com cada barrigada, que nem te conto. Frescas, sumarentas! Cruzes! Que maravilha!

Vamos lá perto, para eu ver melhor.  Anda daí, olha, pois são. Prova lá. Ah! Vês? Até reviras o pescoço para trás. Ó Celeste, calma. Espera lá. Olha que te magoas. O pino ainda podes fazer, mas um mortal à retaguarda, já não tens idade. Pára lá, por favor. Levas com a canadiana! Se isso te acalmar, não hesito Não comas mais! Pareces  louca. Se calhar é alguma  alergia. Lá estão eles a olhar. Não percebo. Coscuvilheiros, pá... É lá, meninos, estão a ver o quê? Ajudem-me a agarrar a minha amiga. Ó Celestino, também aí estás? Ajuda-me aqui a segurar a tua avó. Não? Ok... Eu também não quero saber, então. Olha onde ela já vai, no fundo de vila, E eu ralada. Tu é que és família. Pronto, claro, tinha que ser. Ficou presa nas silvas. Assim, acaba por sossegar. Vou para casa.

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