quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Etiqueta e Pirolito

  Etiqueta e Pirolito subiram à árvore e ali ficaram sentados, no grosso tronco capaz de os suportar aos dois.

O processo era sempre o mesmo, Pirolito subia primeiro e ajudava Etiqueta estendendo-lhe a mão para a ajudar nas partes mais difíceis, onde a estabilidade era pouca porque quase não havia onde firmar os pés.
Após instalados, olharam em redor, por entre as folhas, viram o pai, lá ao fundo, a preparar a terra para a sementeira, as ovelhentas do tio Pretérito a pastar nos campos de lodeiro e, depois de um breve reconhecimento, olharam fixamente o céu.
_Vês alguma coisa?_
_Ainda não. Será que hoje não vem?_
_Vem. Ele vem sempre. Hoje não ia faltar. Logo hoje, que faço anos. Há-de trazer- me uma prenda. Tenho a certeza._ Etiqueta suspirou, receosa de que nada se passasse nesse dia tão especial.
O tempo foi passando, vagaroso, o tempo é sempre vagaroso quando esperamos ansiosamente por algo, até que Pirolito exclamou:
_Olha ali!_
_Onde?_
_Ali ao fundo. Ainda mal se vê. Junto às nuvens!_
Aquilo que era um ponto, foi-se aproximando até se reconhecer um enorme pássaro de penas escarlate e verde sol. Planou durante uns segundos sobre as crianças até se posicionar mesmo em frente a elas, planando, imóvel e esplendorosa.
Preso ao bico, trazia um pequeno embrulho, que agarrava pelo laçarote cor de rosa, e que depositou nas mãos de Etiqueta.
"Não abras já." Parecia querer dizer no seu canto encantador. E cantando, num piar pleno de recados, se afastou tão rapidamente como aparecera, deixando os irmãos observando a sua viagem pelo ar.
Os irmãos desceram a árvore, tão rapidamente quanto era possível. Etiqueta agarrava a prenda com os dentes para ter as mãos livres. Todo o cuidado era pouco para que não caíssem daquela altura brutal.
Sentaram-se nas ervas húmidas, junto ao grande tronco.
_Abre_ disse Pirolito, ansioso. Não era todos os dias que se recebia um presente de uma ave tão bela. Tão linda era que nem um só adulto acreditava na sua existência. Diziam serem sonhos de meninos com muita imaginação.
Etiqueta desfez o embrulho, nervosa. O que poderia trazer-lhe o pássaro visitador? Tinha que ser algo de extraordinário, disso tinha a certeza.
Dentro da pequena caixa estava uma lágrima de pássaro e uma gota de orvalho, presas num fio de ouro.
Cristovam Duarte, José Silva e 29 outras pessoas
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