segunda-feira, 3 de junho de 2019

Sem #Veto

Do lado direito da velha estrada,
seguindo em torno do lago, os pássaros cantavam.

Sentada numa pedra, a um canto sombrio, uma mulher escrevia
sobre aquela tranquilidade.


O sol difuso permitia-lhe ver, ainda assim,
uma roupa estendida numa corda
inchada pelas rajadas, as peças cheias de vento vazio,
a dançar atrapalhadamente.


Escreveu, sem o ver, também o sol brilhante e mais as folhas das árvores verdes
que caíam, ao mesmo tempo.

Tudo muito simplesmente existindo, o que via, e o que não via,
levitando por causa do sol.
Até as sombras podiam levitar por causa do sol, fosse ele amarelo ou laranja.

Inclinou o tronco para observar uma flor.

Lembrou-se, de repente,  que o seu reflexo desaparecia na constante
agitação das ondas do mar, azul, azul, lá tão longe.

Todavia, ali podia ter os olhos atentos aos seus traços,
mesmo que quebrados pelos movimentos ondulatórios da água,
sempre se formava uma figura esbatida.
por entre os limos da superfície.

Era perseguida, muito  discretamente por ela, pela água,
que descia o rio ao seu lado, passo a passo, todos os dias.

Depois de escrever uma última frase:
"O mar também tem ondas cujo brado nos pode enlouquecer",
levantou-se e seguiu caminho, contornando o lago, devagar.


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