sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Só os pássaros espreitavam com algum interesse para dentro dos vidros das janelas de casas sem dono.
Na quietude moviam-se dois insetos, um que esvoaçava entre a poeira e outro que tamborilava as suas oito ínfimas patas pelo chão, junto ao rodapé.
O gato em qualquer ponto galgava a cerca, atravessava  as pedras sujas do caminho e, na penumbra, semicerrava os olhos.
Os pássaros pousavam no parapeito, ou planavam batendo as asas em cadência, o número de vezes suficiente para lhes aguentar o peso do corpo que parecia ficar suspenso no ar, ou simplesmente passavam, e de passagem olhavam com interesse lá  para dentro da casa sem dono.
As trepadeiras enroscavam-se, agarravam-se às saliências, os arbustos por podar tapavam grande parte das paredes externas, a casa sem dono era engolida pela vegetação, as portas eram maltratadas pelo vento repetido vezes sem conta. 

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