domingo, 15 de janeiro de 2023

Sempre à procura das palavras adequadas e elas, irremediavelmente perdidas, as coisas a crescerem imóveis, e eu a escrever numa página que ninguém  encontrará.
Só existe o murmúrio das árvores, 

"O fogo tendia a alastrar, agitava os seus braços traiçoeiros em redor.
Alguém estaria, indevidamente, por ali, ouvi ruído vindo da sala ao lado.
Uma figura excêntrica estava parada na porta que liga as duas divisões e olhava para mim.
O seu cabelo, em filigrana de prata grisalha, apontava as pontas, como setas, num estranho sentido ascendente, vestia roupa em desuso, grandes rosas vermelhas destacavam-se estupidamente do estampado da camisa, e uma saia, de um plissado com cor indefinível, tal como o verde do inverno é difícil de descrever, descia-lhe até aos tornozelos.
Pequenos focos de chamas teimavam em surgir, junto à lareira, mas fora dela, e eu tentei apagá-los, meticulosamente. Um aqui, outro ali, enquanto alguns troncos resvalavam, incandescentes, para o chão."

Enquanto olho pela janela do autocarro, e vejo pessoas que passeiam e outras que apenas passam, são estes os cavaleiros da triste figura que nem conhecem os refúgios da cidade silenciosa das manhãs domingueiras, quando convivem, sem medo do chão, pombas e gaivotas, invento histórias.
E quantas #Zicas vão morrendo e renascendo ao longo da vida de Zica, de Susana, de Viriato, de Raquel, de João e de Madalena?

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