sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A BORBOLETA INCONGRUENTE

O impossível aconteceu. Impossível talvez não, antes improvável, a verdade é passou uma borboleta desesperada junto a mim. 
Vinha perdida naquele universo próprio dela, onde as flores eram tantas, e as árvores juntavam-se de tal forma umas às outras, que o aroma do sémen das plantas se dispersava no seu nariz e ela com curta vida, arreliada com uma procura que a fazia perder um tempo precioso, que a fazia baralhar os sentidos, e a impedia de farejar como um cão farejador.
Ainda para mais, a criança pegou-lhe pelas asas, destruindo mais de metade do pó de borboleta que a cobria, para a deixar cair das mãos.
A pobre ainda deu três voltas desnorteadas em queda livre, mas, graças a deus, mesmo antes dos seus olhos se espatifarem contra o chão, lá se recompôs, a custo, e uma das muitas consequências, talvez a mais grave, foi perder grande parte da leveza que tanto a ajudava em tudo, e que ficou, muito belamente, estampada no sorriso da criança,  entre o espanto e a alegria inocente.
Era quase impossível que fosse desespero. Podia também ser tristeza, falta de rumo. ou ainda, alcoól no sangue, tóxico e mortal, mortalmente específico para aqueles insetos insetos mais amados do planeta, só pelo peso das coloridas e protuberantes asas.
A chuva, ao contrário daquala que ousa  sair dos poemas, límpida e brilhante,  cheia de beleza enganadora, também não ajudara em nada.
Ficou irritada com o tempo que lhe ia sendo retirado na proporção do que ficava perdido nas voltas a mais, a chuva foi-se, e ela saíu atarantada debaixo da folha, e prosseguiu.para beber, se conseguisse, o nectar que ficara contido nas gotas dos cálices, nas pontas das pétalas, se conseguisse voar ainda, depois de tão devastadora intempérie.
Mesmo naquele espaço limitado, o paraíso ideal para as borboletas, para as pessoas e para os harmoniosos deuses que nada viam, a borboleta, 
A borboleta, munida de humanidades idiotas, invejou a capacidade da águia se elevar nos céus, e, com olhos de lince, perceber lá das alturas, os caminhos a seguir.
Aborrecia-se a toda a hora, que passava, desnecessária e lenta, que lhe afetava as cores dos olhos minúsculos, raiados de azul.







Sem comentários:

Enviar um comentário