sexta-feira, 12 de julho de 2019

#Festa_dos_Tabuleiros

Ainda não era dia quando Firmino Costa se levantou.
Foi à casa de banho despejar a bexiga e voltou a deitar-se.
Naquele sono leve da manhã, sonhou que alguém lhe arrancava o pé direito  o que lhe provocava dores atrozes, e é claro que, ao acordar, percebeu que tinha esse pé entalado entre a cama e a parede, e, com as voltas agitadas e inquietas que se viu obrigado a dar enquanto estava inconsciente, já o tornozelo tinha revirado em hélice, não sei quantas vezes, tal e qual como nos desenhos animados.
A mulher, que andava na lida desde cedo, chegou-se à porta do quarto e gritou baixinho três vezes, se é que é possível gritar baixinho, eu acho que sim, "Festa_das_flores! Festa_das_flores! Festa_das_flores!", como era seu hábito desde que tinham casado, num belo outono de prata, todos os dias bradava aquilo, uma vez à noite e outra vez pela manhã.
As crianças viam TV, com os seus biberões agarrados pelas duas mãos. Bebiam sofregamente, como fazem os bebés, pelo menos os filhos de Firmino assim faziam.
Ao espreitarem pelo canto do olho, viram o pai a coxear, a preocupação transmitiu-se ao líquido que ingeriam e cuja cor alterou completamente.  O que era branco passou a verde, e uns segundos depois amarelou. até o preto intragável se instalar em definitivo.
A vizinha bateu à porta, falaram todos um pouco, depois Firmino foi apanhar lenha em plena cidade. Não encontrou mais do que uns galhos imprestáveis, e voltou para casa aborrecido, nunca havia nada de aproveitável naqueles passeios debaixo das árvores.
Com tudo isto, fez-se tarde. Já a lua uivava pela noite dentro à procura dos meninos para os comer muito vivos, se é que posso dizer isto, porque, em boa verdade, ou se está, de facto, vivo, ou, de facto, se não está.

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