sexta-feira, 10 de junho de 2016

Vão ( Enciclopédia Ilustrada)

A minha amiga Luísa vive num vão de escada. Ainda não percebi onde é o buraco que conduz à sua casa.
Às vezes, de cá de cima da janela, só lhe vejo uma cauda comprida e fina colada ao chão. O corpo cinzento e gordo está escondido atrás da esquina.
Tem dias que não dá pela minha presença, silenciosa, um andar acima. Então, sem medos, rasteja rapidamente em várias direções, movimentos que eu não entendo, mas que ela lá sabe, a Luísa.
Fui eu que a batizei. Aliás, ninguém lhe dá o previlégio da identidade a não ser eu, mas tive o cuidado de escolher um nome que não fosse de ninguém conhecido, para não ofender, porque a Luísa é um animal nojento.
À altura dos meus olhos cruzam -se tubos na parede uns muito grossos, outros mais finos, alguns partem do chão até ao último andar do prédio. Nem vou dizer que tubos tão feios procuram o sol, que dali não se vê.
Ao meu lado, de vez em quando, arranca um velho motor barulhento, tão velho que parece não servir para nada.
Aquele vão de prédio é absolutamente deprimente. Só me chego à janela porque a Luísa, como é fumadora, fica ali a fumar um cigarrinho e faz-me um pouco de companhia!

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