sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Os plátanos (1)


 Tinha acordado com uma impressão nos olhos, , abriu-os, e viu a carita do gato.
A Maria, pequenina, tentava  chegar às bolinhas dos plátanos,  que do jardim se debruçavam sobre a varanda, nas traseiras da casa. Os plátanos, nús no Inverno de Sintra, pendurados no castanho. A boneca, deitada no chão molhado, com os braços esticados, os olhos tanto vazios como implorando, e a Maria ainda tinha outra brincadeira. Apanhava a água da chuva em tachinhos de criança, para depois  fazer uma bela duma sopa, com umas folhas de jasmim, e um pouco de terra do vaso.
Foi passear de mão dada com a mãe, e a mão da mãe, à altura dos seus olhos, envolvia a sua. 
Iam pelo passeio, e havia daquelas árvores por todo o lado. Umas viam-se inteiras, imponentes, outras espreitavam por detrás das casas velhas, todas cheias de bolinhas!  Os seus troncos enormes ocupavam grande espaço no passeio. A calçada toda torta por causa das raízes.
Sentou-se direita na cadeira, e enquanto esperava pelo lanche balouçava as pernas, ao ritmo de uma canção que lhe estava na cabeça e ia apreciando as luzes brilhantes da pastelaria, em contraste com o nevoeiro lá fora.
Chegou a casa e voltou para a varanda. Da varanda ouviam-se os pássaros e pouco mais, às vezes a avó na cozinha a fazer a comida, um ou outro automóvel mais barulhento, cujo ruído a casa não abafava. Come! Papa tudo!
E a boneca de ontem, sem articulação nenhuma, tesa como um parafuso, os braços sempre esticados, os cabelos húmidos, o musgo, a pedra.

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