quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O arrogante João e a parva Inês

   O João tinha uma vida de muitas e lindíssimas mulheres, exibidas como troféus, aos amigos e aos conhecidos, em festas de ocasião.
   "Esta é a Inês. Eu tenho cinquenta e ela tem vinte e três". Como aos amigos tanto lhes fazia que a Inês tivesse aquela, ou outra idade qualquer, o João prosseguia na descrição pormenorizada da fortuna do pai da preciosa Inês, um homem que afinal até era para a mesma idade que a sua, e até se tratavam muito familiarmente por "tu"!
   E como os amigos pouco interessados estavam em hectares próximos de Beja, ou Viana do Castelo, ou o que fosse, o João insistia que ele e a Inês se davam maravilhosamente, desde que se tinham envolvido, havia dois ou três meses. E não querendo saber os amigos de tão fugaz felicidade, o João passava para os conhecidos, que sempre simulam uma expressão de interesse, e de inevitável delicadeza, como quando se conhece mal alguém, e se tem esperança que da sua conversa nasça alguma coisa de relevante.
   E a Inês? A Inês não podia dizer: "Este é o João, e tem metade da minha idade, pois sobrar-lhe-iam apenas onze anos e uns quantos meses de pessoa, o que é um pouco absurdo, e nada vangloriador! Também não podia falar de fortunas, porque o João nada tinha, para além da sua voz quente! O que podia dizer aos amigos era: "Estou completamente apaixonada por este velho a dar para o gordo", mas isso também não ia dizer, porque não é coisa que se revele nem aos amigos, quanto mais aos conhecidos. Até porque, se calhar, disso a Inês nem se apercebia, porque o amor não escolhe idades, nem densidades, nem volumes, nem recheios de carteira!
   E não tendo nada de relevante para dizer sobre o João, amando-o só porque o amava, a inocente e inexperiente Inês participava nas conversas, calada, apenas deixando, involuntariamente, os olhos brilhar!


 

Sem comentários:

Enviar um comentário