quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Um Conto Para Meninos Céticos

Todos os dias a pequena Edmunda depositava uma oferenda à porta da #floresta.
Os meninos mais céticos desconfiarão de haver uma porta para a dita, mas acontece, senhores meninos céticos, que esta era uma floresta encantada, e vai daí que tinha uma porta, por sinal até muito bonita, em madeira toda pintadinha de um alegre vermelho vivo, para disfarçar a madeira do carvalho que morrera em estranhas circunstâncias.
Era assim que funcionava tudo o que se relacionava com aquele bonito e denso bosque no meio do nada. Tudo era aproveitado e reciclado, a árvore morrera e os seus familiares, as árvores mais chegadas em termos de genética, logo trataram de produzir mobílias e afins.
Mas, voltando ao que interessa, Edmunda, nesse específico dia, tinha colocado um saco cheínho de olhos de vários animais e pessoas no sítio do costume, prevendo que no dia seguinte, quando regressasse com nova saca de prendas, a mãezinha dela todos os dias  preparava qualquer coisa, pois ninguém se atrevia a provocar a ira dos entes que ali residiam esquecendo tão importante obrigação, já lá não encontrasse nada.
Pela janela, Edmunda com a curiosidade inerente às crianças, espreitou para ver o que se passava no cerrado bosque. Não vos esqueceis senhores meninos, de que esta é uma floresta encantada, condição que lhe permite ter uma janela, pendurada dir-se-ia que em coisa nenhuma, ao lado da porta de entrada, e pintada da mesma e animada cor.
Lá dentro estava muito escuro e os olhos da criança levaram um tempo a conseguir habituar-se às trevas, de forma que não teve, nos primeiro segundos, qualquer reação ao perigo, pelo que não ofereceu a mínima resistência quando o grande salgueiro, com as suas hastes compridas e flexíveis, e pelo espaço deixado pelos vidros inexistentes, a arrancou do sítio onde estava, envolvendo-a pela cintura, e a transportou para os confins da escuridão, julgando tratar-se de mais uma dádiva daquela boa gente.
Senhores meninos céticos, eu, se fosse entidade estranha em floresta esquisita, eu própria poderia ter confundido. Nem tudo o que parece, é, nem tudo o que é, é, nem tudo o que não é, é. Por vezes o que é,  não é,  o que não é,  é, ou o que é, é. É mesmo assim.










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