sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Eu vi a voar uma peça de roupa presa por molas a um estendal.
As duas mangas da camisa empolavam de tal forma que,  com maior atenção, era possível imaginar fazerem parte de um corpo desajustado, tal era a inquietação do vento.
As molas, esforçadas pelo peso da camisa balançavam como doidas, e as mangas...
não digo  que dançassem as suas mangas, pois não  havia harmonia nos seus movimentos.
Uma peça de roupa soltou-se de um estendal.
Era uma camisa branca, com braços gordos aflitos, que balançavam sem descanso até ao momento em que se soltaram e percorreram que passava sobre as casas na sua deslocação ondulante.
Foi cair num beco.



Eu vi a voar
uma peça de roupa
de um estendal.
Uma camisa branca, talvez...
pelo menos 
duas mangas brancas eu vi
balançando como doidas, 
inquietadas pelo vento.

As molas resistiram 
até dado momento,
mas, 
esforçadas pelo peso 
do tecido molhado 
acabaram por libertar 
o corpo inteiro
do qual faziam parte
aqueles dois braços agitados
e, convenhamos,
com grande falta de harmonia 
nos movimentos
Depois soltou-se, 
não sei se já disse, 
mas ainda ondulou sobre 
dois telhados,
e uns quantos automóveis
estacionados
mas foi perdendo velocidade
E acabou por cair
num beco.








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