As duas mangas da camisa empolavam de tal forma que, com maior atenção, era possível imaginar fazerem parte de um corpo desajustado, tal era a inquietação do vento.
As molas, esforçadas pelo peso da camisa balançavam como doidas, e as mangas...
não digo que dançassem as suas mangas, pois não havia harmonia nos seus movimentos.
Uma peça de roupa soltou-se de um estendal.
Era uma camisa branca, com braços gordos aflitos, que balançavam sem descanso até ao momento em que se soltaram e percorreram que passava sobre as casas na sua deslocação ondulante.
Foi cair num beco.
Eu vi a voar
uma peça de roupa
de um estendal.
Uma camisa branca, talvez...
pelo menos
duas mangas brancas eu vi
balançando como doidas,
inquietadas pelo vento.
As molas resistiram
até dado momento,
mas,
esforçadas pelo peso
do tecido molhado
acabaram por libertar
o corpo inteiro
do qual faziam parte
aqueles dois braços agitados
e, convenhamos,
com grande falta de harmonia
nos movimentos
Depois soltou-se,
não sei se já disse,
mas ainda ondulou sobre
dois telhados,
e uns quantos automóveis
estacionados
mas foi perdendo velocidade
E acabou por cair
num beco.
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